terça-feira, 6 de junho de 2017

Entendimento

Priiiiiiiiiiiii! - apita e aponta para o meio de campo. A torcida grita gol enquanto o goleiro e a zaga avançam para cima do árbitro.

"Tá maluco ?! Não foi gol !", reclama o zagueiro

"No meu entendimento foi gol sim", defende o juiz

Os jogadores se entreolham assombrados.

"Como assim no seu entendimento ?"

"A regra é clara, mas cada árbitro tem seu entendimento e no meu entendimento foi gol."

"A bola não entrou ! Eu espalmei ela pra fora!", defende o goleiro.

"Como juiz, preciso me ater a complexa hermenêutica das regras do futebol nacional. O gol, como fim em si, se justifica não apenas pela materialização do fato mas também pelo cunho intencional da bola e do atacante."

Nesse ponto não havia mais como entender o árbitro.

"Como é que é ?", perguntaram em uníssono.

"Vejam bem, o atacante chutou com força exuberante, infringindo velocidade estupenda à pelota, que como um projétil dirigiu-se ao gol. Fica clara a intenção esférica de gol bem como do atacante que a propulsionou em direção à rede."

"Isso é palhaçada!, bravejou o goleiro.

Aproxima-se o bandeirinha e sussurra ao ouvido do árbitro. Ele acena a cabeça e balança ativamente os braços anulando o gol.

"O que foi agora?" indagou o zagueiro.

"Mudei meu entendimento. A bola foi claramente para fora."

O zagueiro olha para o bandeira sem entender nada:

"O que danado você falou pra ele?"

"Lembrei de uma jurisprudência em caso semelhante."

"Só isso?"

"Isso e a senha de uma mala que está no vestiário dele."




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