Priiiiiiiiiiiii! - apita e aponta para o meio de campo. A torcida grita gol enquanto o goleiro e a zaga avançam para cima do árbitro.
"Tá maluco ?! Não foi gol !", reclama o zagueiro
"No meu entendimento foi gol sim", defende o juiz
Os jogadores se entreolham assombrados.
"Como assim no seu entendimento ?"
"A regra é clara, mas cada árbitro tem seu entendimento e no meu entendimento foi gol."
"A bola não entrou ! Eu espalmei ela pra fora!", defende o goleiro.
"Como juiz, preciso me ater a complexa hermenêutica das regras do futebol nacional. O gol, como fim em si, se justifica não apenas pela materialização do fato mas também pelo cunho intencional da bola e do atacante."
Nesse ponto não havia mais como entender o árbitro.
"Como é que é ?", perguntaram em uníssono.
"Vejam bem, o atacante chutou com força exuberante, infringindo velocidade estupenda à pelota, que como um projétil dirigiu-se ao gol. Fica clara a intenção esférica de gol bem como do atacante que a propulsionou em direção à rede."
"Isso é palhaçada!, bravejou o goleiro.
Aproxima-se o bandeirinha e sussurra ao ouvido do árbitro. Ele acena a cabeça e balança ativamente os braços anulando o gol.
"O que foi agora?" indagou o zagueiro.
"Mudei meu entendimento. A bola foi claramente para fora."
O zagueiro olha para o bandeira sem entender nada:
"O que danado você falou pra ele?"
"Lembrei de uma jurisprudência em caso semelhante."
"Só isso?"
"Isso e a senha de uma mala que está no vestiário dele."